sábado, 4 de julho de 2015

Grécia: FMI confirma (que novidade!) a avaliação da dívida feita pelo governo do SYRIZA


3/7/2015, [*] Yanis VaroufakisYanis Veroufakis Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Christine Lagarde (FMI) e Yanis Varoufakis (4/4/2015)
O alívio da dívida tem de estar no centro das negociações de um Novo Acordo para a Grécia. Esse tem sido como um mantra do nosso governo, desde o dia 26/1/2015, nosso primeiro dia de trabalho. Exatamente cinco meses depois, dia 26/6/2015, o FMI concordou (como se pode ler hoje no New York Times), no mesmo dia em que o Primeiro-Ministro convocou um referendum para que o povo grego possa REJEITAR a proposta liderada pelo FMI e a qual... não oferece NENHUM ALÍVIO DA DÍVIDA.
É experiência fascinante ler a mais recente análise de sustentabilidade da dívida, pelo FMI (Debt Sustainability Analysis, DBS):
– Pela primeira vez, o FMI reconheceu, na 5ª revisão que fez da avaliação da dívida, que há baixa probabilidade de que a dívida pública da Grécia se confirme sustentável.
Aí vai um extrato do próprio relatório do FMI, em que confessa que, para (conseguir) apresentar a dívida pública da Grécia como sustentável (sem ter havido alívio substancial da dívida), os seus especialistas tiveram de assumir que
(…) A Grécia teria de (conseguir) saltardo mais baixo fator médio total de crescimento da produtividade [Total Factor Productivity (TFP)] em toda a área do euro desde que o país integrou-se à União Europeia em 1981 – para um dos mais altos crescimentos do TFP; e que chegaria também às mais altas taxas de participação da força de trabalho e a índices alemães de taxas de emprego
Doravante, evidentemente, porcos voam!
Quando perguntado sobre como o crescimento da produtividade conseguiria dar esse “salto com vara”, do ponto inferior extremo para os pontos mais altos da área do euro, com pleno emprego (e sem NENHUM crédito e investimento), a resposta padrão do FMI é:
Para alcançar crescimento no TFP similar ao que outros países da área do euro conseguiram, é portanto (sic) crítico que sejam implementadas reformas estruturais.
Acontece que o Capítulo 3 da Visão Mundial do Mundo Econômico, pelo FMI, de abril de 2015 (Chapter 3 of the FMI’s April 2015 World Economic Outlook) destrói completamente esse raciocício e respectiva (?) conclusão.
A verdade é que a própria pesquisa feita pelo FMI mostra que reformas do mercado de trabalho têm impacto negativo sobre o fator total de produtivicade, e que reformas do mercado de produtos têm efeito neutro.
Voltando à sustentabilidade da dívida pública grega, essa recente Análise de Sustentabilidade da Dívida [Debt Sustainability Analysis, DSA]) feita pelo FMI não poderia ser mais eloquente.
Na verdade, é até mais ‘dura’ contra a Europa oficial, que se mantém em surto de negação da necessidade de qualquer alívio da dívida, do que nós – o governo do SYRIZA – pensaríamos em ser:
– nem 50 anos de ‘'austeridade'’ (i.e. um superávit primário de 2,5%) bastariam para reduzir a dívida a níveis sustentáveis. Veja o gráfico a seguir:

(ou clique aqui para aumentar)

Simplesmente não é razoável – lê-se também no documento do FMI – esperar que a grande dívida do setor oficial migre de volta para os balanços do setor privado, com taxas consistentes de sustentabilidade da dívida.
Ah, mas que não é “razoável” esperar tal coisa, isso, não é MESMO!
ATENÇÃO: Quanto a isso, em primeiro lugar, é o caso de explicar por que migraram para o balanço do setor público! Será que tal fenômeno aconteceu por efeito dos fracassados programas “comandados” pelo FMI em 2010 e 2012?
EPÍLOGO
Muito impressionantemente, toda essa boa pesquisa realizada pela boa gente que trabalha no FMI repentinamente se evapora, quando funcionários do FMI passam a operar em colusão com seus colegas do BCE e da Comissão Europeia para impor ao nosso governo grego políticas escolhidas por eles. Dia 25/6/2015, nos apresentaram o ultimatum deles, centrado no alívio zero da dívida, arrocho monstro (3,5% no médio prazo), e ainda mais das mesmas “reformas” dos mercados de trabalho e produtos.
Nunca antes se viu instituição digna de respeito advogar a favor de políticas que colidem tão impiedosamente com a pesquisa que ela mesma produza.
Nunca antes o FMI concordou tão amplamente, em termos de análise econômica, com um governo que ele esteja tentando devastar.
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[*] Yanis Varoufakis (em grego Γιάνης Βαρουφάκης) (nasceu em Atenas em 24/3/1061), é economista, blogueiro e político grego membro do partido SYRIZA. É o atual ministro das Finanças do Governo Tsipras desde 26/1/2015. Varoufákis é um acérrimo opositor do ARROCHO.
Depois de diplomas em matemática e estatística, Varoufákis fez seu doutorado em 1987 na Universidade de Essex (Reino Unido) em Economia. Em 1988, ele passou um ano como professor assistente na Universidade de Cambridge. Foi professor de Economia na Universidade de Sydney (Austrália) entre 1988 e 2000. Em seguida foi nomeado para a Universidade de Atenas. Em 2013 ele também ensinou na Universidade do Texas, em Austin.
Em 2010 fundou, com a artista e esposa, Danae Stratou, a organização sem fins lucrativos Vital Space.
A partir de 2012, trabalhou para a Valve Corporation, inicialmente como economista da empresa, em seguida, como consultor. Tem um blog com os resultados de suas pesquisas.
Desde a crise global do US$ e do €, que começou em 2008, Varoufákis tem sido um participante ativo nos debates ocasionados por esses eventos. Juntamente com Stuart Holland e James K. Galbraith, ele é o autor do livro: Uma proposta modesta para resolver a crise do euro.
No seu livro Europe and the Minotaur – Greece and the Future of the Global Economy, publicado em janeiro de 2015, Varoufakis defende a europeização de um sistema de redistribuição entre os estados europeus, apelando à justiça e igualdade entre os membros da União Europeia.

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